Monday, June 24, 2013

SEDE A JUSTIÇA



Há alguns anos que digo quanto a minha fé e escolha pessoal de vida pelo Evangelho, que deixei de ser evangélico. Não me identifico com o movimento, com seus ideais e suas formas, assim como com suas ideias e muitas de suas crenças. Entretanto sei que continuo sendo contado e identificado com este seguimento religioso tanto para gente que vê de dentro dele como para os que olham de fora. Não me identificar com a igreja evangélica, para mim, não significa querer mal aos que dela fazem parte. Ao contrário amplio meus horizontes de fraternidade, vendo como irmão todo aquele que tem o bem e o amor a Deus e ao próximo como vivencia, e não apenas os frequentadores de certo tipo de culto, por exemplo.

Escrevo estas linhas aqui com o olhar de quem conhece o universo abordado de dentro, tanto quanto a vivencia já que a maior parte destas ultimas três décadas da minha vida foi passada dentro da igreja evangélica, quanto como estudioso do tema, pois tenho me dedicado ao estudo do fenômeno evangélico de forma acadêmica nos últimos oito anos. Como me incluem ainda no meio cristão evangélico isso também me autoriza a fazer as propostas que farei a seguir.

O Brasil está mudando. Junho de 2013 já entrou para História. Certamente ainda há muito para ser feito, mas, no mínimo, houve uma vitória contra a acomodação política e social. Também é verdade que precisaremos de tempo para ver os resultados efetivos ou não das manifestações populares.
Muito é requerido, mas o mote de todos os pontos levantados é transparência, honestidade e ética.

Quando a honestidade requer protesto é sinal que as bases éticas desta sociedade estão completamente desmoronadas. Estamos diante de uma demanda por mudanças que atingem a própria cultura do jeitinho, tão inerente ao brasileiro. Jeitinho que, muitas vezes, é na pratica corrupção. Nossa politica há muito, é a baseada nos jeitinhos (as PECs e afins me soam como jeitinhos constitucionais).

Enquanto isso a igreja evangélica hora se omite, hora se diz realizante dos movimentos (até mesmo se dizendo pioneira destes fatos), hora diz que já sabia, hora diz que esta tudo errado, hora apenas ora e na maioria das horas fica bamboleando entre a sua própria rede de intrigas politicas e na defesa de valores que parecem muito relevantes, mas que se parecem mais com a vontade de se sentir relevante na politica. Nesse meio as campanhas politicas já começaram (ou será que pararam algum dia?). Então seguem os debates sobre “cura gay”, casamento gay, adoção gay e a bancada evangélica fica cada dia mais cheia destas bandeiras antigays e garantindo os votos dos que acreditam que essa turma esta em defesa da família brasileira. Estão em defesa das suas famílias e dos seus asseclas, no máximo. Estão apenas falando o que os crentes gostam de ouvir para garantir a reeleição. Isto vale para os defensores da causa gay na mesma proporção.

Mas já que queremos um Brasil diferente e já que me incluem no meio evangélico ainda, proponho aqui que se proteste contra algumas praticas deste meio, principalmente de seus lideres. Proponho que estes protestos sejam levados até suas lideranças, ao menos para que eles tenham o direito de demonstra uma argumentação coerente. Proponho que você que lê estas linhas, ao menos resolva pensar sobre as questões que seguirem apontando no tom de protesto:

- Protesto contra o enriquecimento mágico, rápido e sempre suspeito de lideres religiosos. Não falo dos que construíram com labor uma vida equilibrada, falo dos que se dizem viver da fé e a sua condição econômica é uma agressão, um desatino se pensarmos na realidade brasileira. Chega de dizer e ouvir que foi Deus que abriu as janelas dos céus. Céus que só se abrem para os arrecadadores, enquanto os doares ficam alimentando a culpa por não receberem nunca uma promessa que só quem paga recebe. Roubadores do templo, precisam do pecado para que vendam o perdão.
-Protesto contra a isenção de impostos que as igrejas e entidades afins desfrutam. Que haja uma fiscalização nestas contas. Que se preste contas publicas já que isenção de imposto significa que o dinheiro não arrecadado será substituído por um outro que fora arrecadado.
-Protesto contra todo e qualquer espécie de voto de cajado. Sugiro que você diga não quando qualquer líder religioso diga em quem você deve votar, principalmente se ele espiritualizar o discurso dizendo que tal candidato foi enviado por Deus. Não acredite nisto! Quando um líder espiritual lança um candidato a cargo publico e banca com a sua cara esta candidatura, possivelmente quem é o candidato de fato é o líder e não quem aparece na tela da urna. È uma candidatura indireta. Não é crime, mas não é ético!
- Protesto contra o estrelismo religioso de gente que se diz de Deus e se vende o tempo inteiro no vácuo do consumo de celebridades tão comum neste tempo. Diga não aos que se mostram grandes preletores, pregadores, cantores etc. Compre produtos apenas dos que se assumem profissionais da musica e não de gente que faz o discurso hipócrita de que esta servindo ao próximo com seus dons enquanto está apenas com uma relação comercial com seu publico.
- Protesto contra todo que diz que a Bíblia diz o que não tem coerência nenhuma com Jesus e com o Evangelho. Proponho que você comece agora a repensar as mensagens que ouve e tentar achar nelas o Evangelho de Jesus.
-Protesto contra o uso do espaço e do dinheiro para construção de lugares luxuosos, enquanto iniciativas de serviço ao próximo de fato comem as migalhas que caem da mesa.
- Protesto contra a deseducação promovida por religiosos que reafirmam a superioridade de sua classe enquanto desprezam os chamados pecadores.
- Protesto contra o habito arbitrário de correlacionar pensamento livre a insubordinação. Protesto contra as exclusões e contra as exposições da vida alheia feitas em nome da fé. Protesto contra os abusos, as dominações, os asenhoramentos, os estupros das consciências praticados de forma comum em universos que deveriam promover saúde.

Por hora é isso.
Por um Brasil melhor.

Fabio
Junho/2013