Thursday, September 24, 2009

DA CAVERNA


Para quem não tem medo de ver

Quem se acostuma com as trevas não consegue ver a luz sem sentir dor. Há uma multidão que enxerga com facilidade e fé as promessas risíveis de falsos profetas-pregadores, os moveres proféticos mais bizarros do mercado gospel, as macumbas e maldições apostólicas, a manipulação da boa fé e tantas outras coisas que, absurdamente, chamam hoje de evangelho. A multidão consegue ver com a facilidade de quem olha a beleza de uma flor aquilo que tem a feiúra da mentira e o mau cheiro da morte. Ainda consegue a proeza de ver Deus, em meio a tantos absurdos, como se Ele de fato estivesse ali. Esta habilidade de ver o invisível, de crer no incrível, de perceber o ilusório e achar que é verdade é mais séria do que pensamos e me traz a impressão que é preciso mais fé que o esperado para acreditar em tantas revelações. As novidades suplantam rapidamente a velha esperança da vida eterna pela mensagem da cruz.

Não posso deixar de pensar diante disto tudo que, ao menos em parte, Nitzsche tinha razão. Razão em dizer que os homens adoram um cadáver achando que veneram a Deus, que preferem mais mentira do que a Luz, e que optam pelo absurdo já que o real não lhes satisfaz. Para Nitzsche não há nada além do homem e sua mente enganosa no bojo disso tudo. Para mim há algo além do mente humana, há o pai da mentira.

Jesus nos mostra o Pai. E o que Ele nos deixa ver? Um carpinteiro, nascido na manjedoura, que anda e sofre, que escolhe pecadores, que bebe com quem bebe, que vai a festa, que acolhe a adultera sem pedras na mão e não entra no jogo sujo daqueles que querem apedrejar a mulher adúltera, mas que aplaudem o homem adúltero, que acende a fogueira, trás o pão e o peixe, para comer com quem o tinha negado dias antes. Ele nos deixa ver o Pai nas lagrimas do Getsemani, na hemorragia vencida pelo amor que faz com a sua própria vontade seja subjugada. Ele nos mostra o Pai na morte de cruz, nos mostra o Pai na simplicidade do anuncio mais eloqüente da história: Ele não está aqui, ele já ressuscitou. O Cordeiro de Deus nos mostra, na simplicidade, quem é Deus.

O absurdo que mais irrita é ver o deus que a religião e seus donos querem que as multidões vejam. Esse deus é um louco, cheio de barganhas, inventor de modas, vaidoso, motivador de calunias, perseguidor dos fracos, assassino de quem discorda dele, motivador de autoritarismos indizíveis. É um deus nazista, ultra-nacionalista. E não vos falo do Islã, nem dos mitos gregos, e nem mesmo dos exús encruzilhadeiros. È fácil achar que é deste entes que falo, estes também estão nesta crítica, repito, também.Vos falo da mentira daqueles que dizem ter visto a luz, mas que de fato apenas souberam que ela existe em algum lugar. A essa mentira chamam de Senhor. Essa mentira se reinventa todo dia, se vestindo de novidade vinda do Céu, tendo vindo sim da cabeça oca de alguns ou da mente extremamente criativa de outros. Há gente bem intencionada, mas há também gente sagaz nisso tudo. Os inocentes entram e ficam nessa por pura ignorância e até mesmo inocência, os sagazes são filhos do pai de toda sagacidade e só estão dando fruto do que são. O bolso cheio os purifica de todo pecado.

A verdade que mais consola é ver que o Pai não muda e que Ele não é uma invenção dos homens. Deus não tem dono. Deus não é da Teologia. Ele não é um mito, não é totalmente discernível pelo saber, não se limita as nossas crenças e nem se veste a camisa de nenhuma instituição.

É provável que o desconforto que a Luz pode trazer faça com que a multidão prefira ser possuída por alguém que diga o que está vendo e conte aos cegos e crédulos. O que a maioria não sabe é que o guia também nada vê. Ainda assim a dor de ver faz com que muitos prefiram as trevas.

O desconforto da Luz se chama por três nomes: Simplicidade, Amor e Graça.

Um pedido final, antes de você dizer que eu estou me achando o dono da verdade e julgar que eu estou me sentindo melhor que os outros, leia tudo de novo, critique, pense, analise e tente dizer que tudo que eu disse é engano. Se achar que eu estou cego me ajude a ver.

No amor de Quem nos chama das trevas para a Luz. Na esperança de não viver apenas dizendo Senhor, Senhor.

Fabio


PS: Se você acha que a ignorância é doce e a verdade é amarga repense se de fato você enxerga.