Wednesday, September 26, 2007

SÓ UM APERITIVO....

Essa é a Introdução Do livro que estou escrevendo. ENTRE O REINO DE DEUS E REINO DOS HOMENS , é seu título provisório. A temática é a que vcs já conhecem em meus texto: o Reino acima de tudo.
Estar trabalhando neste projeto é um dos motivos que me fazem não atualizar semanalmente o blog, mas isso vai mudar, aguardem....
Por enquanto aceite esa pequena prova para degustação. Espero que gostem.

Saude e Paz
Fabio


ENTRE O REINO DE DEUS E O REINO DOS HOMENS

Ninguém duvida que a igreja evangélica brasileira vive hoje um exuberante crescimento em seus arraiais. Contudo, recomendo que ninguém duvide também que este crescimento quantitativo não traz em si o mesmo potencial qualitativo, isso não apenas nas questões que envolvem a fé cristã pessoal dos membros das organizações evangélicas, mas, principalmente, nas questões coletivas de fé, ou seja, no tipo de cristianismo ensinado, pregado e propagado. A fé pessoal é resultado da fé ensinada, os fieis, em sua maioria, vão para onde estão sendo guiados.

O distanciamento da mensagem cristã atual em relação a mensagem de Cristo revelada no Novo Testamento tem gerado em muitos crentes uma visão distorcida quanto ao Reino de Deus. De fato muitos confundem o Reino de Deus com as instituições eclesiásticas, que na verdade são parte apenas da realidade humana, assim como o próprio fenômeno religioso também o é. O problema maior é que tendemos a projetar uma imagem para Deus através da lente de nossos credos, coisa muito normal na psique humana. Todos já ouvimos o chavão – “ O teu Deus é do tamanho da tua fé”. O que ocorre é que não é o “tamanho de Deus” que é influenciado pela “quantidade” de fé que temos, mas a maneira como acreditamos que Deus é fará com que Ele “seja” exatamente assim, pra nós, pessoalmente. Podemos dizer que nossa teologia faz a nossa fé que, por sua vez, faz o nosso Deus. Não estou dizendo que nossa fé muda a natureza divina. A natureza de Deus é imutável, mas O veremos exatamente como cremos que Ele é, e nós cremos de acordo com o que aprendemos: a fé deriva da teologia que aprendemos. Se aprendemos uma teologia voltada para a felicidade financeira tenderemos a ver Deus apenas como uma fonte de riqueza; se aprendermos uma teologia que supervalorize curas e milagres O veremos como um grande milagreiro a serviço de nossas necessidades; se temos uma teologia impessoal e distante, nossa visão será de um Deus longínquo, e por vezes iracundo. Esse fenômeno da relação “teologia-fé-teologia” é presente em qualquer cor religiosa, inclusive no universo evangélico.


Interessante é ver que os grupos evangélicos insistem em se afastar do fenômeno religioso, colocando-se acima de qualquer coisa que diga respeito a religiosidade. Na verdade hoje o que presenciamos é uma clara definição quanto ao fato que as igrejas evangélicas são cada dia mais religiosas e institucionalizadas, formando subgrupos de uma religião maior. A religião evangélica esta se tornando a pizza e as igrejas as fatias. Isso ocorreu nos tempos de Jesus com o Judaísmo: os fariseus, os saduceus zelotes, herodianos, essênios e até mesmo os cristãos eram subgrupos da religião judaica. Ora o que vemos hoje é isto ocorrer com os evangélicos. As igrejas são as fatias da pizza evangélica.

Os sub-grupos religiosos, normalmente possuem pontos de igualdades com os outros da mesma espécie, mas discordam entre si em alguns aspectos doutrinários, chegando a combaterem-se mutuamente e a considerarem heréticos os outros sub-grupos. Muitas vezes estes movimentos são universos complexos de verdades defendidas a ferro e fogo, de submissão cega a um líder-profeta. Nestes casos, geralmente, a instituição tem muito mais valor que as pessoas. Se entra fácil e alegremente, mas se sai com muita dificuldade e dor, aliás sair é tornar-se inimigo, pois há cores bem definidas para serem defendidas por seus adeptos; negar essas cores é trair todo sistema. Estes fatos aplicam-se as religiões de forma geral e não a um ou outro grupo específico.

É duro e angustiante para a maioria dos cristãos evangélicos o saber destas verdades, mas a cada dia que passa muitas organizações eclesiásticas confirmam mais suas vocações para institucionalização religiosa, igualando-se a qualquer outro movimento de fé, entretanto vejo que mais duro e angustiante ainda é ver a quantidade de corações feridos, decepcionados, marcados com os pontiagudos espinhos da frustração que fustiga os que se descobrem usados enganosamente e desiludidos por seguirem líderes que se dizem comprometido com Deus, mas que lentamente vão se mostrando lobos famintos. E agora, pra onde ir? Em quem acreditar? Vale confiar novamente? Não seria melhor servir a Jesus sozinho sem relacionamento cristão com mais ninguém?

O que nos dá esperança, fé e firmeza para vivermos em comunidade é a verdade bíblica que nos mostra que o Reino de Deus é real. De fato, biblicamente existe apenas um rebanho e um Pastor (Jo 10). Deus ao olhar para o Seu povo não vê as cores denominacionais, as bandeiras e logotipos. O que Ele enxerga é o Seu rebanho único, dentro de Seu aprisco, cuja porta de entrada é Ele mesmo. Ele, Jesus, é a porta, a porta do aprisco, que é estreita, mas é porta de salvação. Quanto aos pastores do rebanho do Senhor, fica claro que: ser pastor é uma função no Corpo de Cristo, assim como existem outras funções. O Novo Testamento chama estas funções de ministérios; ser pastor é cuidar das ovelhas Dele, e a única motivação correta para este atribuição é o amor ao supremo-Pastor (Jo 21.1-17). As ovelhas são Dele, não de pastor nenhum, menos ainda de organização alguma. Nesse Rebanho, feito de ovelhas compradas pelo sangue de Jesus para si mesmo é onde o Reino de Deus se faz possível. Digo isso porque, no âmbito das organizações eclesiásticas, certas verdades do Reino soam, no mínimo, utópicas. O viver o Reino de Deus não é uma utopia (utopia é a forma latina da palavra grega utópos, que significa “lugar nenhum”), mas a única opção que resta pra quem quer seguir a Jesus de fato.

O tom denunciante dessa introdução não corresponde ao mesmo que se seguirá no desenvolvimento do assunto aqui tratado, não pretendo isso, ao contrário, ao mostrar um pouco (e muito pouco) o lado feio da religiosidade evangélica deste tempo quero provocar o contraste entre a feiúra humana-institucional e a beleza pura e simples do Reino de Deus, esse sim é o assunto que está em foco aqui.

O Reino de Deus é lindo, pois Seu Rei é a própria beleza em essência. Uma beleza tão simples que, para muitos passa despercebida.

Pai nosso... venha o Teu Reino, aqui dentro de minha vida.