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quinta-feira, maio 24, 2012

SISTEMA, SISTEMA, SISTEMA




Sistema é uma conjunção de fatos controlados, previsíveis e repetitivos que dominam formas, atos e pensamentos, da religião a economia, mas que se torna invisível aos dominados exatamente por impor esta condição escravocrata na relação com seus participantes passivos e ativos. Por passivos entenda-se os que estão sob domínio; por ativos a referencia é aos que praticam, propagam e incentivam, mesmo que sem que saibam disto, a dominação sistematizadora.

Um sistema, normalmente será reproduzido por grande parte dos que estão sob ele, ou seja, por não ser percebido dominados-dominados e dominados-dominantes reproduzirão automaticamente aos que influenciam a única forma de viver que sabem e vêm, a forma que um sistema diz que existe. Não há opção, há reprodução sistemática. A variante que se apresentam nestes processos reprodutivos do sistema são apenas “novidades” do próprio sistema para se reinventar e ficar menos visível ainda. Com cara de novo, mas com a mesma alma vampiresca que parece não morrer nunca e que só sai a noite, por que a Luz lhe incomoda demais e pode até mata-lo.

Essa coisa bem Matrix esta em tudo e envolve a todos, dando-lhes de beber “do vinho da grande meretriz” (vide Apocalipse 17), embebedando, mascarando os sentidos e fazendo da não-sobriedade, da letargia, um estado permanente de alegria, de entretenimento, de saberes e de credos, frutos do domínio do sistema regido pela batuta invisível do maestro dominante.

Chegado a estes meros conceitos retirados da observação crítica, surge, imediatamente, a questão: como não viver dominado? Como sair de um sistema? Ok. Todos os que percebem que há um domínio que dita regras de pensamento, que formata a cosmovisão e que rouba sua liberdade (não falo de leis) possivelmente já iniciaram o processo de sair da caverna, ao menos apontaram os olhos para a luz da saída, antes apenas formadora das sombras que pareciam ser as únicas coisas de fato reais.

Os que dizem ver a luz e não enxergam os jogos do poder e, por isso, se mantêm aprisionados pela mente e pelas formas dominantes, apenas dizem, falam, papagaiam, imitam. Demagogos cansativos se fazem. Anunciadores do que não sabem, vagam perdidos no umbral, nas margens do Aqueronte, não sabem se vão ou se voltam, sem que saibam que nunca voltarão, dado que nunca foram. Pobres almas, não possuem nem uma moada para Caronte. São como os de Laodicéia, pobres, cegos e nús.

Todo sistema sabe que vaidade é uma arma sedutora. Alimenta isto como quem amenta a criança faminta. Fala o que se quer ouvir, faz o que se quer ver, propaga o que todos passivamente dirão “amém”. O que ele espera de volta? As mesma coisas ditas anteriormente, ou seja que se fala o que ele quer, que se faça o que lhe agrada ver, que se propague o que potencializa a passividade dominada e o carisma dominante.

Dito isso, reflita comigo partindo do conceito para a prática. Ouço muito a pergunta “você criou um novo sistema?”. As vezes ouço isto como afirmação. Na maioria das vezes não ouço, por que não querem se dar ao trabalho de ouvir a resposta. Entendam, quem se iguala aos outros, quem fala de suas fraquezas sem o “pudor virginal”, quem não vende a si, não será instrumento de dominação ao mesmo tempo quem faz o contrario destas coisas, por mais que diga que não é dominante e dominado, multiplicador de cegueira e, possivelmente, precisa desta imagem falsa para viver.

Comparemos com Jesus, com o Evangelho, o que há enquanto sistema religioso-politico-cultural e o choque sempre será grande, se de fato quisermos ver. A proposta do Evangelho de Jesus é de mudança de consciência, de mente, tudo isso motivado pelo amor a Ele e pelo outro. Sendo que, este amor não provêm da bondade humana, mas dEle em nós. Não há nada novo. É o velho e bom Evangelho, a boa nova, que liberta, que é luz, que faz o cego ver.

Cansei da demagogia hipócrita de quem denuncia um possível sistema, mas bebe das mesmas taças e do mesmo vinho da vela meretriz reinventada. Perdoe-me o desconforto, mas realmente cansei de ouvir mensagem de uma pseudo-nova-reforma. Não há o que reformar. Remendo novo em odre velho rasga o odre e faz derramar o vinho, é preciso que sejamos, cada um, pessoalmente, odres novos, para que recebamos o vinho novo e o mantenhamos incorruptível. O vinho novo conserva o odre novo. Falo de uma nova consciência, uma nova vida, transformado pelo Mestre que em Caná fez um vinho bem melhor.

Vamos protestar contra o sistema? Não! Ao menos que não seja esta a nossa motivação. Não o combater, o denunciar pelo idealismo ou pelo prazer do combate. Não gastemos tempo com aquilo que esta aí sendo o que sempre foi: o ambiente, o habitat do pai da mentira. Nosso maior protesto é o amor. Não a passividade, mas o amor que fala a verdade e abraça com graça. Não empunhemos as espadas, levantemos a paz. Denuncia-lo sim, porém que até isto seja motivado pelo amor, amor pela liberdade e misericórdia com os que não consegue ver. Que o maior esforço seja o de gastar tempo e suor na pratica do amor, na construção de amizades verdadeiras. Não elejamos inimigos, desconstruamos a inimizade pelo vinculo da paz, pelo perdão, ainda que unilateral.

No amor de Quem a liberdade é mais que ideal é realização Sua.

Saúde e Paz,
Fabio

Um comentário:

Mario Correa disse...

Tenho, por estes dias, refletido sobre liberdade, i.e, ser livre.
Afinal de contas, o que é ser livre?
Com todos os contratempos, posso dizer que faz tempo que luto por isso, por minha liberdade. Por isso, por exemplo, excluído de uma igreja quando jovem, nunca mais fui arrolado em nenhum rol de membros, e percebo que nunca permiti que isso ocorresse. Congreguei em algumas igrejas, tive e tenho 'amigos' pastores, mas nunca entreguei meu nome para ser anotado em livro algum. Sempre me bastou a graça, e por ela crendo que meu nome sempre esteve arrolado no Livro da Vida.
Pela minha liberdade enfrentei outros tipos de contratempos e de desaprovações - afinal de contas estava fora do 'sistema', de modo geral. Por isso nunca tive muitos amigos, muito poucos, na verdade. Tenho opinião própria, e embora aceite opiniões divergentes, nem sempre aceitaram a minha. Tenho grande dificuldade de conviver com mentiras, por exemplo, que dirá corroborar. Aprendi a viver contente, pq tenho paz, e por ela luto, se preciso. Não permito que me a roubem. A questão é entre eu e Deus, sempre foi e sempre será.
Por entender quão miserável sou, aprendi - e continuo aprendendo - a olhar os outros com graça. O que tento é fazê-los ver as mentiras que sustentam o sistema, e fazê-los pensar sobre liberdade - por isso procuro ser didático. Afinal é Jesus quem declara: Se conheceres a verdade, verdadeiramente sereis livres. Não dá para ser livre subjugado por homens (não me refiro a leis). E não falo de insubordinação, mas de respeito. E se ele faltar, a insubordinação é defesa.
Por isso, como dizem, vivo no meu quadrado. Em paz.
Belíssimo texto, Fábio. Parabéns.