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sexta-feira, setembro 27, 2013

SAUDADES...


O que penso sobre saudade?

Dizem que é palavra que só existe por aqui, pelas bandas dos que falam o português. Dizem que saudade é a eterna e perene falta de algo que se ama. Dizem que é a dor mais sem remédio de todos. Dizem que é a cadeia do passado nas coisas do presente. Dizem que quem não sente saudade nunca amou. Dizem que não se sabe a dimensão da saudade até que se vai para os portos das perdas. Dizem que é dor de amor. Dizem que sempre haverá saudade, nem que seja de nós, mesmo que seja do que nunca foi.

Tenho saudades, múltiplas saudades. Algumas não sei nominar, outras nem sei do que é. Tenho saudades de lugares que nunca fui, de gente que não conheci. Mas saudades são sempre múltiplas. Saudade de alguém é a multiplicidade de tudo que este ser amado representa. Sim, no presente , representa. Na saudade esta o tudo, o sorriso, a presença, a vida ainda viva de quem se foi, mas não se foi, está presente no amor em forma de saudade.

Saudade é saudar, mas deve ser assim transformando-se de tristeza em saudação do que já não se tem, na verdade, nunca teremos pessoas, mesmo as mais amadas, assim como nós estão de passagem e, mesmo sem sabermos os porquês algumas se vão tão rapidamente, rapidamente segundo a nossa forma de ver o tempo, mas exatamente segundo O que vê além do tempo, O que só é da eternidade.

A gente vai passando deixando os rastros de saudades. Isto comprova o que somos, o que semeamos, enquanto gente que se torna amada por cativar com sorrisos simples, infantis e desarmados, mãos amigas que se estendem e entendem. Pela verdade na vida.

Não sei ainda se saudade passa, mas sei o que ela representa: uma saudação ao amor, aos momentos eternizados em nós, as pessoas que se foram, mas jamais irão, sempre estarão presentes no amor.

Dedicado a pessoas que partiram, mas que viverão para sempre e àqueles que hoje choram de saudades, mas que não perdem a esperança.
Aos meus queridos Mario e Sayonara, em memoria do "nosso" (que sempre foi dEle) Davizinho. 

Em memória de "nossa" Eliane também. 
Aos meus "Vôs" e as minhas "Vós".

A estes dedico minhas saudades, hoje.
Fabio.

segunda-feira, junho 24, 2013

SEDE A JUSTIÇA



Há alguns anos que digo quanto a minha fé e escolha pessoal de vida pelo Evangelho, que deixei de ser evangélico. Não me identifico com o movimento, com seus ideais e suas formas, assim como com suas ideias e muitas de suas crenças. Entretanto sei que continuo sendo contado e identificado com este seguimento religioso tanto para gente que vê de dentro dele como para os que olham de fora. Não me identificar com a igreja evangélica, para mim, não significa querer mal aos que dela fazem parte. Ao contrário amplio meus horizontes de fraternidade, vendo como irmão todo aquele que tem o bem e o amor a Deus e ao próximo como vivencia, e não apenas os frequentadores de certo tipo de culto, por exemplo.

Escrevo estas linhas aqui com o olhar de quem conhece o universo abordado de dentro, tanto quanto a vivencia já que a maior parte destas ultimas três décadas da minha vida foi passada dentro da igreja evangélica, quanto como estudioso do tema, pois tenho me dedicado ao estudo do fenômeno evangélico de forma acadêmica nos últimos oito anos. Como me incluem ainda no meio cristão evangélico isso também me autoriza a fazer as propostas que farei a seguir.

O Brasil está mudando. Junho de 2013 já entrou para História. Certamente ainda há muito para ser feito, mas, no mínimo, houve uma vitória contra a acomodação política e social. Também é verdade que precisaremos de tempo para ver os resultados efetivos ou não das manifestações populares.
Muito é requerido, mas o mote de todos os pontos levantados é transparência, honestidade e ética.

Quando a honestidade requer protesto é sinal que as bases éticas desta sociedade estão completamente desmoronadas. Estamos diante de uma demanda por mudanças que atingem a própria cultura do jeitinho, tão inerente ao brasileiro. Jeitinho que, muitas vezes, é na pratica corrupção. Nossa politica há muito, é a baseada nos jeitinhos (as PECs e afins me soam como jeitinhos constitucionais).

Enquanto isso a igreja evangélica hora se omite, hora se diz realizante dos movimentos (até mesmo se dizendo pioneira destes fatos), hora diz que já sabia, hora diz que esta tudo errado, hora apenas ora e na maioria das horas fica bamboleando entre a sua própria rede de intrigas politicas e na defesa de valores que parecem muito relevantes, mas que se parecem mais com a vontade de se sentir relevante na politica. Nesse meio as campanhas politicas já começaram (ou será que pararam algum dia?). Então seguem os debates sobre “cura gay”, casamento gay, adoção gay e a bancada evangélica fica cada dia mais cheia destas bandeiras antigays e garantindo os votos dos que acreditam que essa turma esta em defesa da família brasileira. Estão em defesa das suas famílias e dos seus asseclas, no máximo. Estão apenas falando o que os crentes gostam de ouvir para garantir a reeleição. Isto vale para os defensores da causa gay na mesma proporção.

Mas já que queremos um Brasil diferente e já que me incluem no meio evangélico ainda, proponho aqui que se proteste contra algumas praticas deste meio, principalmente de seus lideres. Proponho que estes protestos sejam levados até suas lideranças, ao menos para que eles tenham o direito de demonstra uma argumentação coerente. Proponho que você que lê estas linhas, ao menos resolva pensar sobre as questões que seguirem apontando no tom de protesto:

- Protesto contra o enriquecimento mágico, rápido e sempre suspeito de lideres religiosos. Não falo dos que construíram com labor uma vida equilibrada, falo dos que se dizem viver da fé e a sua condição econômica é uma agressão, um desatino se pensarmos na realidade brasileira. Chega de dizer e ouvir que foi Deus que abriu as janelas dos céus. Céus que só se abrem para os arrecadadores, enquanto os doares ficam alimentando a culpa por não receberem nunca uma promessa que só quem paga recebe. Roubadores do templo, precisam do pecado para que vendam o perdão.
-Protesto contra a isenção de impostos que as igrejas e entidades afins desfrutam. Que haja uma fiscalização nestas contas. Que se preste contas publicas já que isenção de imposto significa que o dinheiro não arrecadado será substituído por um outro que fora arrecadado.
-Protesto contra todo e qualquer espécie de voto de cajado. Sugiro que você diga não quando qualquer líder religioso diga em quem você deve votar, principalmente se ele espiritualizar o discurso dizendo que tal candidato foi enviado por Deus. Não acredite nisto! Quando um líder espiritual lança um candidato a cargo publico e banca com a sua cara esta candidatura, possivelmente quem é o candidato de fato é o líder e não quem aparece na tela da urna. È uma candidatura indireta. Não é crime, mas não é ético!
- Protesto contra o estrelismo religioso de gente que se diz de Deus e se vende o tempo inteiro no vácuo do consumo de celebridades tão comum neste tempo. Diga não aos que se mostram grandes preletores, pregadores, cantores etc. Compre produtos apenas dos que se assumem profissionais da musica e não de gente que faz o discurso hipócrita de que esta servindo ao próximo com seus dons enquanto está apenas com uma relação comercial com seu publico.
- Protesto contra todo que diz que a Bíblia diz o que não tem coerência nenhuma com Jesus e com o Evangelho. Proponho que você comece agora a repensar as mensagens que ouve e tentar achar nelas o Evangelho de Jesus.
-Protesto contra o uso do espaço e do dinheiro para construção de lugares luxuosos, enquanto iniciativas de serviço ao próximo de fato comem as migalhas que caem da mesa.
- Protesto contra a deseducação promovida por religiosos que reafirmam a superioridade de sua classe enquanto desprezam os chamados pecadores.
- Protesto contra o habito arbitrário de correlacionar pensamento livre a insubordinação. Protesto contra as exclusões e contra as exposições da vida alheia feitas em nome da fé. Protesto contra os abusos, as dominações, os asenhoramentos, os estupros das consciências praticados de forma comum em universos que deveriam promover saúde.

Por hora é isso.
Por um Brasil melhor.

Fabio
Junho/2013

quarta-feira, maio 15, 2013

CONFESSO: CANSEI! MEU TOTAL ESGOTAMENTO É IRREMEDIÁVEL.


É quase insuportável. Diria que é insuportável. Perdoem-me, mas...

Estou cansado, esgotado, minha alma precisa confessar, se rasgar e abrir-se em verbo. Gritar em catarse, aliviar o peso e contar para quem quiser ouvir: cansei!

Sinto-me cansado da insistência vergonhosa de quem não quer ver que as coisas mais claras diante dos olhos são as vezes tão óbvias que se tornam invisíveis. Dentre elas, ao menos para mim, a principal é a vertiginosa distância entre o Evangelho e a religião, seja esta qual for. Cansei. Quem quer ouvir a Verdade? Onde estão os que não se ofendem com quem não mente, manipula ou se põe à venda? Quem suporta um ser humano normal, sem capa ou máscara,em um mundo onde super-líderes-heróis são altamente rentáveis? Quantos estão dispostos a encarar a sinceridade, a autenticidade sem o show dos milagres cenográficos, sem um amontoado de promessas?

Estou assim, esgotado. Enquanto alguns insistem em defender o indefensável, me esgota a sensação de que o idiotismo é a qualidade da vez, é o ópio, a erva maldita da alienação ou do corporativismo político-religioso.

Confesso: cansei. Há anos que estou assim. Não é amargura, é esgotamento. Agora é irremediável, não há mais volta.

Cansei das barganhas em nome da fé, cansei dos esforços em se fazer celebridade a qualquer preço, tornei-me enojado de qualquer autopromoção. Cansei de ver que pensadores são tratados como danosos e que os que não conseguem ver criticamente são agradavelmente agraciados pela graça da aceitação covarde dos que tem teto de vidro. Vidro fino, claro e caro.

Não consigo mais suportar os eventos religiosos promovidos como se fossem, cada um, a última marcação na agenda divina. O gênio divino contratado para estar na data, na hora e no local certo (ou errado?) para fazer exatamente o que se contratou. Façam-me um favor: excluam-me! Poupem-me! Estou cansado, preciso estar assim.

Cansei-me das doutrinas, opiniões, teologismos, absolutismo, inquestionabilidades, dogmas, revelações, carismatismo, tradicionalismo, pentecostalismos, “neoqualquercoisalismo”. Cansei das disputas entre “ismos”. Não me envolvam em nenhum. Cansei da impossibilidade de estar na zona do dialogo, aceitação mútua. Cansei de qualquer postura que invalide o consenso.

Estou esgotado das santidades. Me aborrecem as santices enjoadas. Lugares e pessoas santas demais, eternamente descontentes com o pecado do outro, me deixam enfastiado. É em meio a pecadores como eu que me sinto mais à vontade. Pecadores se entendem, se respeitam e reconhecem que precisam melhorar. Santíssimos são estáticos, estão prontos. Vejo pecadores pedindo perdão e santos lançando-os no Inferno. Cansei-me do Inferno também.

Cansei-me de perceber que se não há nada a venda e não se oferece nada em troca, também não há generosidade e amor no dar. Hipocrisia me esgota, já que estes denunciam os mercadores da fé, mas não saem de suas feiras livres, onde se vende e compra tudo, mas é a alma humana o produto principal.

Esgota-me a incapacidade pessoal de se fazer o bem, sem fotos, sem propagandas, sendo apenas pelo bem do outro, sem ser notado. Cansei das frases prontas, das músicas que nada dizem, da pobreza das poesias de encomenda. Não consigo suportar as mensagens diametralmente opostas à vida, à realidade, ao pé no chão, à caminhada no Caminho.

Cansado, esgotado, mas renovado na esperança que o Justo está de pé.
Renovado pelo descanso no cuidado do Pai, sabendo que Ele não se cansa de mim e nem de ninguém. 
Nele me renovo e me refaço para a contínua caminhada na direção do descanso.


Em Jesus, nosso lugar seguro.
Saúde e Paz
Fabio

terça-feira, janeiro 08, 2013

O QUE DIGO QUANDO FALO...



Que não sou Evangélico. Que não me identifico (não mais) com as igrejas e movimentos religiosos que carregam esta chancela nominal e que são identificadas por práticas e crenças chamadas “evangélicas”. Não me identifico com suas doutrinas, não me identifico com as formas de expressão de sua fé e também não me identifico mais em muitos das praticas proibitivas, portanto se não me identifico com este universo me sinto alheio a ele, aliás vale faço menção que , pelo que sei, considerado traidor, infiel, filho do diabo e afins em uma de suas representações. Logo, a recíproca é verdadeira.  Minha dedicação é ao Evangelho, a Jesus de Nazaré, sua missão, sua graça e verdade.  

Que não sou cristão. Que não me identifico com o Cristianismo Histórico, reconheço sua importância na construção do ocidente, mas também suas mazelas. Não me identifico com Catolicismo, nem com a Igreja Ortodoxa, tão pouco com o Protestantismo. Não acredito na absolutização da Reforma como ação de Deus na Terra. A Reforma foi uma consequência histórica, filosófica, econômica e politica, como tudo que há no mundo dos homens. Não me identifico com decisões dos Concílios e Institutas de Calvino. A tudo considero, mas a nada me apego. Acredito no “ser –cristão”, o ser que se cristianiza, tornando-se parecido com Cristo em seu caráter, vida e, essencialmente, em amor.

Que não tenho igreja.  Que não me sinto nem dono, nem parte de uma organização religiosa/igreja, ainda que exista uma instituição/pessoa jurídica pela qual respondo e a qual lidero. Esta organização que chamamos de Espaço Betel, primeiramente é um lugar e não uma “revelação divina”, em segundo lugar ela existe para servir a Igreja- pessoas, jamais poderá ser o inverso. Há quem chame o Espaço de sua igreja, eu não me importo com formas e respeito quem assim lide com a coisa, mas que fique (e está) claro que igreja/lugar/marca é coisa humana, Igreja de Jesus é gente que se reúne em qualquer tempo e lugar em Seu Nome e tendo a Ele como proposito, motivo, ideal e Senhor.

Que Igreja são pessoas. Que quando me responsabilizo por tal discurso, me responsabilizo pela missão de ser Igreja todo tempo, dinamicamente, andantemente e não na experiência estática de quem vai e vem de um lugar e ali cumpre, institucionalmente, suas obrigações religiosas. Ser Igreja é ser na missão. É no “indo” e não no "ide" que as sementes do Evangelho vão sendo semeadas.

Que dizimar e ofertar não são obrigações.  Que quem dizima/oferta por que é obrigado, não o faz por amor e sim pela obrigatoriedade, logo só possui o valor de  ter obedecido a Lei e não de quem o fez por um gesto de amor e gratidão a Deus. Dízimos e ofertas falam para nós e não para Deus, falam para nós por onde anda nosso coração, nossa gratidão e nosso tesouro. Quem deixa de dizimar/ofertar por que descobriu que o “devorador” de Malaquias é uma metáfora judaica, agrícola e da Lei, portanto acredita  que esse papo de se tornar “ladrão” é invencionice que visa objetivos arrecadadores e quem faz disso o motivo de sua “libertação financeira” continua na mesma condição que estava antes de “descobrir” tais fatos: um barganhador, interesseiro e com um potencial para hipocrisia e santarrice. Creio piamente que o Pai nos supre e que há, da parte dEle, recompensa para quem dá até um copo de água, mas que em fazendo isso, nem percebe que esta semeando e, portanto, colherá. O semeador semeia por que é grato pela semente semeada nele. É assim no espirito do Evangelho.

Que a não acredito em vida secular e vida religiosa como forma de ser. Isto por que a vida é inteira e não fragmentada. O que sou e faço como profissional é tanto meu serviço a Deus quanto quando estou reunido com os irmãos na fé e ali prego, canto ou toco um instrumento. É serviço a Deus por que é serviço aos homens e é servindo a estes que se serve Aquele.

Que não vejo necessidade de estruturas eclesiásticas complexas, cheias de cargos, ministérios, títulos, lideres, vice-lideres, dirigentes, diretores e afins. Tais coisas servem mesmo é para alimentar o ego e para que os aplausos sejam evidenciados. Na maioria das vezes o que precisamos é da consciência madura de que somos servos. Quem assim se vê não precisa ser cobrado, não precisa de metas, de numerários, seu serviço é sua maneira de existir, seja tocando um instrumento, ensinando para os pequeninos, ajudando em alguma área menos evidente e qualquer coisa que se expresse em realizações.

Que Deus não precisa das minhas orações. Óbvio. Como conceber um Ser independente de tudo e dependente apenas de Si como necessitado de algo? Eu preciso dEle, não Ele de mim. Simples assim. Oro porque preciso da Sua pessoa e não de suas atuações. Mesmo assim Ele, abundantemente gracioso, faz mais do creio, oro ou penso.

Que congregar é importante, mas não é tudo. Primeiramente é importante a caminhada na fé juntamente com outros. Estes outros são chamados para que construam amizade. “Irmão de igreja” é apenas a institucionalização de relacionamentos. Congregue sim, com gente e não com “crentes”. Digo isto pensando na tendência desumanizadora que temos de pensarmos que só gente que crê como a gente que é gente boa, isto não é verdade e as ovelhas de Jesus só ele as conhece. Em se tratando de caminhada com Jesus tudo é pessoal, individual, mas não solitário.

Há muito mais a ser dito, mas que a vida fale e as palavras se façam compreender pelos atos. Que os discursos cansativos e enfadonhos, se transformem em ações. 
Que a verdade seja o caminho e a vida.

Saúde e Paz


Fabio